Texto escrito por Tânia Braz  para seu amigo, o compositor Carlos Magno.

Belo Horizonte, agosto de 1999.
REFLEXÕES

É chegado o momento do confronto entre a realidade e a ilusão.  “Alma e Mente em guerra”, eu diria... O sistema exige dos humanos o máximo de eficiência, de poder de decisão, de criatividade. Competitividade, informação, dinamismo, objetividade, as palavras-chave para se alcançar o sucesso! Mas como eu poderia ser feliz, seguindo essa fórmula de sucesso que não me permite seguir no meu próprio ritmo? Que não me dá  o direito de fraquejar, de ficar indecisa e insegura, com certa freqüência? Como farei para ser bem sucedida, se necessito perder uma parte do meu tempo fazendo perguntas sem resposta; se meu sonho é poder ser sempre amorosa, ainda que meio otária e piegas de vez em quando;  se quero não querer nada quando melhor me aprouver; e se de tardinha fico doida para ver o pôr-do-sol?

Sou meio brava, mas sou de paz. Só mesmo diante do desrespeito, da covardia e da deslealdade para eu me revoltar. Não sou de criticar os caminhos do mundo, nem de julgar os atos das pessoas... mas, que diabo! Onde é que eu fico nessa confusão em que a história da civilização se meteu? Estarei eu no lugar certo, fazendo o que devo fazer, recebendo o que me é devido, dando de mim o que é esperado? Qual é  minha tribo?   E, já que estou me perdendo em indagações,  lá vão algumas inquietudes espirituais: o que justificaria crueldades cotidianas, tão naturais, tais como a dor do parto, a cadeia alimentar ou o envelhecimento? E algumas questões mais terrenas: porque tantas tolices encontram tanto respaldo no interesse das pessoas, significando poder e se transformando em rios de dinheiro? Entre uma coisa óbvia e outra, tem de haver sutilezas insondáveis... tesouros mágicos.

Talvez, me chamem coitada pela minha aparente loucura, ou me condenem a pretensão dessa vã filosofia... Tudo bem; afinal estamos todos no mesmo barco e fazemos o que podemos, não é mesmo? Ademais, devo confessar que, apesar de muito perguntadeira, na verdade não me aflijo com a ausência de respostas. Felizmente, fui presenteada com o dom da fé. Eu sempre acho que no final tudo vai dar certo. Acredito até que a morte valha à pena e que o mal é um bom mestre. Também creio que todas as coisas são exatamente como devem ser, porque o caminho é feito de passos e não de chegadas e partidas. Acredito na matemática  tanto quanto na poesia. No fundo, é tudo uma coisa só mesmo. E vou pensando, sentindo e perguntando. E só assisto à televisão quando não tenho nada melhor para fazer. Sou livre. Aquariana da gema, como você.

Entretanto, ultimamente, ando meio calada, observando esses seres-humanos, que, a cada dia, admiro mais. Todos nós somos tão lindos com nossas peculiaridades, nossas fantasias, nossa vontade de viver... Nossas capacidades admiráveis, nossa vaidade intrínseca, nossas carências infinitas, nossa coragem inexplicável. Será que estou aprendendo a amar? Será que estamos aprendendo a amar? Ai, esperança que não morre! O que realmente importará nessa vida? Quem deverá ser o mestre de nossas escolhas? À que ponto somos responsáveis por elas, se tudo é tão transitório, tão passageiro... Chegam a dizer que  já está tudo escrito! É... talvez, Deus tenha inventado o tempo para que cheguemos um dia a entender e a seguir, por livre e espontânea vontade,  o Seu “script”. Viver o momento, respeitando a eternidade! Por onde anda a voz do que os católicos chamam de divino espírito santo, para nos dar uma mãozinha? Ou será que é de Espírito Santo a matéria com que são feitos os ditames mais sinceros da nossa consciência, os desejos mais puros e desprendidos do nosso coração? Terão eles o poder de distinguir o certo do errado?  Certo... Errado... se tudo é tão relativo! Será???

Só sei que convém estar atento e calmo, pois é chegado o momento do confronto entre a verdade e a mentira. Pressentiremos um Norte que dará sentido a tudo nessa vida e, então, nada impedirá o exorcismo do desamor de que, por séculos e séculos, fomos tanto vítimas quanto algozes. Estejamos preparados. Bem vinda seja a revolução do último tempo!




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